Artefatos de pedra lascada revelam sítio arqueológico em Betim (MG)
Arqueologia

Artefatos de pedra lascada revelam sítio arqueológico em Betim (MG)


Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia
Geraldo Nogueira encontrou, em sua fazenda, pedra lascada que pode ter até 9.000 anos; descoberta bota Betim na rota dos sítios arqueólógicos


Descoberta foi feita em levantamento ambiental para construção de alça de acesso à BR-381

Renato Fonseca, do jornal Hoje em Dia

Um levantamento sobre o impacto ambiental das modificações viárias para a construção de uma alça de acesso à BR-381, na região de Betim, em Minas na Grande BH, esbarrou em 9 mil anos de uma história que ainda não tinha sido contada.

Artefatos feitos de pedra lascada, usados pelos índios em época pré-histórica, comprovam a existência de um novo sítio arqueológico em Minas Gerais e um dos mais recentes do Brasil.

Os objetos encontrados foram pontas de machado e de lança. A descoberta ajudará os cientistas a definir as origens da cidade, além de apontar, com maior precisão, como e quando se deu a ocupação no município.

Um relatório sobre o material arqueológico ficará pronto em 30 dias e será encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela autorização de escavações no país.

O arqueólogo Fabiano Aiub Branchelli, da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), localizou os vestígios do sítio arqueológico em um vazio populacional entre os bairros São João e Bandeirinhas, em Betim. O primeiro objeto descoberto foi uma ponta de lança, feita em pedra lascada.

Segundo Branchelli, que foi contratado por uma empresa da região para fazer o levantamento do impacto ambiental, caso ocorra a obra para a construção da alça rodoviária, “possivelmente, era um instrumento utilizado para caça por índios do período pré-histórico". O nome da empresa e o resultado das sondagens feitas estão em sigilo.

- Ainda não podemos datar o período exato, mas ele pode ter até 9 mil anos. Somente isso já comprova a existência de um sítio arqueológico no local.
De posse da ponta de lança, o arqueólogo entrou em contato com a Fundação Artístico Cultural de Betim (Funarbe) para fazer um levantamento histórico da região. Durante as pesquisas, descobriu no museu da cidade mais três objetos pré-históricos. Eles foram identificados como pontas de machado, encontrados por moradores da cidade.

Fazer a ponta do machado era como amolar uma pedra
Branchelli contou que o material também era feito em pedra, com um polimento especial por meio de um processo chamado de abrasão lenta. Ele explicou que “para construir a ponta de machado e conseguir que uma das extremidades ficasse afiada, era necessário fazer uma fricção com outra pedra, com o auxílio de água e areia. Era como se fosse uma espécie de amolador de pedra”. O arqueólogo voltou na semana passada para o Rio Grande do Sul, onde prepara um relatório das peças que será enviado ao Iphan.

Duas das pedras que estavam no museu, com tamanhos entre dez e 17 centímetros de comprimento, por cinco de largura, foram encontradas pelo agricultor Geraldo Nogueira, de 76 anos. Uma ele achou recentemente, jogada em um posto de gasolina na cidade de Esmeraldas, na Região Central.

A outra, foi descoberta há quase dez anos, quando preparava o pasto de sua fazenda, no Bairro Fortaleza, para plantar bananeiras. O agricultor contou que fez as covas para a plantação em um dia e que no dia seguinte, "choveu muito e a terra se espalhou. Foi quando vi a pedra no meio do monte de barro”. O objeto logo despertou a atenção do agricultor, que cresceu ouvindo relatos de moradores sobre índios que moravam na região.

Ele levou as duas pedras para o museu da cidade, mas as peças não estão em exposição. Os artefatos serão estudados para uma possível escavação na região, que é aguardada com ansiedade pela cidade. De acordo com a historiadora da fundação cultural de Betim, Adriana Lisboa, os materiais encontrados são importantes por representarem os primeiros registros arqueológicos para o município de Betim.

Adriana acrescenta que os objetos comprovam a existência de grupos humanos que tinham assentamento e um padrão de subsistência para coleta e caça.

- Historicamente, a relevância destes achados é muito grande, pois eles poderão mostrar como e quando se deu a ocupação no município.

Tradição rupestre
Minas Gerais tem 1.038 sítios arqueológicos cadastrados no Iphan. As pinturas rupestres – feitas pelos homens pré-históricos nas paredes das cavernas – são as principais representações arqueológicas do Estado. Mas o arqueólogo Andre Pierre Prous, da UFMG (Universidade Federal de MInas Gerais), reforça que qualquer lugar com vestígios de presença do homem é considerado um sítio arqueológico.

A ciência arqueológica se difere da paleontologia, que estuda a formação de fósseis; e da espeleologia, que trabalha com a formação das cavernas.

No território mineiro, os sítios arqueológicos mais densos e estudados encontram-se nos arredores de Lagoa Santa, na Região do Cipó, Alto Jequitinhonha e vale dos rios Peruaçi e Cochá, afluentes do São Francisco.

Também há registros arqueológicos nas serras que dominam o Vale do Rio Doce, na Zona da Mata – próximo a Andrelândia, e nas grutas de Arcos e de Pains. Segundo a professora Martha de Castro e Silva, do Museu de História Natural da UFMG, a legislação brasileira obriga que todo sítio arqueológico, cadastrado no Iphan, dê algum retorno dos trabalhos desenvolvidos para a comunidade.

- Depois que uma determinada região é estudada, os materiais colhidos precisam ser recuperados, se possível. Toda a pesquisa desenvolvida pelos arqueólogos precisa ser mostrada. Isso se dá de várias formas, como um curso de educação patrimonial, uma exposição ou até mesmo a criação de museus.

Fonte: http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/artefatos-de-pedra-lascada-de-9-000-anos-revelam-sitio-arqueologico-em-betim-mg-20100819.html (19/08/2010)



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