Geoglifos do Acre
Arqueologia

Geoglifos do Acre


Geoglifos: Mensagens para os Deuses?
Gigantescas figuras geométricas esculpidas há mais de mil anos nas terras altas acreanas parecem formar paisagens sagradas.


Texto de Dra. Denise Pahl Schaan, arqueóloga, Universidade Federal do Pará.


O Acre é um dos poucos lugares do mundo onde é possível encontrar vestígios arqueológicos representados por figuras de grandes dimensões elaboradas sobre o solo, os chamados Geoglifos. Essas figuras, representadas por desenhos geométricos (linhas, quadrados, círculos, octógonos, hexágonos etc.), zoomorfos (animais) ou antropomorfos (formas humanas), são tão gigantescas que só podem ser totalmente vistas do alto, em especial, através de sobrevôo.

Os Geoglifos mais conhecidos e estudados estão na América do Sul, principalmente na região andina do Chile, Peru e Bolívia. As linhas e geoglifos de Nazca, no Peru, são o exemplo mais conhecido desses desenhos. Entretanto, os Geoglifos existem também em outros países como Austrália e Estados Unidos.
Os geoglifos de Nazca foram descobertos em 1927, com o advento da aviação comercial e ganharam fama mundial com o lançamento do livro “Eram os Deuses Astronautas” de Erich Von Daniken.

O fato dos geoglifos serem figuras que não são vistas do solo levanta uma série de questionamentos sobre a sua origem. A primeira dúvida é como o homem conseguiria se guiar para fazer figuras tão complexas como as de Nazca? Esses questionamentos fizeram surgir várias teorias, uma delas é que essas figuras não foram feitas pelo homem, e sim por seres extraterrestres. Outra teoria bastante aceita atualmente é a de que esses povos tinham tecnologia para fabricar balões e por isso puderam se guiar para construí-los. Essa teoria foi inspirada no fato de que um vaso foi encontrado com o desenho de um balão.

O segundo “ponto de interrogação” é porque desenhar figuras de forma que os homens não podem vê-las? Para responder a pergunta surgem também várias teorias, entre elas a de que as figuras são realmente feitas para se visualizar do alto, para devoção ou agradecimento aos deuses.


GeoGlifos no Acre

No Brasil os geoglifos podem ser encontrados apenas na região do Vale do Acre, entre os rios Acre, Iquiri e Abunã, na rota que vai de Rio Branco à Xapuri. Nesta região, foram encontrados apenas geoglifos geométricos - círculos, quadrados, retângulos e espirais.

Os geoglifos acreanos foram descobertos no final da década de 70, quando o avanço das frentes de expansão agrícola do sul do Brasil rumo à Amazônia retirou a cobertura florestal de milhares de quilômetros quadrados. Essa mudança na paisagem possibilitou observar a existência de desenhos geométricos escavados em baixo relevo.

Em 1977, como parte do inventário do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica (PRONABA), foi registrada pela primeira vez, nas imediações da sede da Fazenda Palmares, a ocorrência de estruturas de terra de forma geométricas, posteriormente chamadas de geoglifos. As pesquisas do PRONAPABA no Acre, coordenadas pelo do Prof. Dr. Ondemar Ferreira Dias Junior da UFRJ, contaram com a participação de Franklin Levy do IAB e Alceu Ranzi da UFAC.

Atualmente estão registrados 110 pontos de ocorrência de Geoglifos no Estado, totalizando a existência de 138 figuras, distribuídas em uma área de 270 quilômetros entre Xapuri e Boca do Acre, no sul do Amazonas. Acredita-se que apenas 10% do total presumível de geoglifos foram localizados até agora , em
parte devido à densidade da vegetação. Eles ainda são um grande mistério para os pesquisadores, mas crescem as possibilidades de terem sido construídos por uma civilização que viveu entre 800 e 2000 anos atrás.


Pistas para um mistério

Há mil anos, populações pré-colombianas da Amazônia Ocidental resolveram cavar imensas trincheiras nos platôs que existem entre os afluentes do alto rio Purus, um rio que deságua no Amazonas. Formando imensos círculos e quadrados, entre outras figuras geométricas, esses locais foram palco de atividades ritualísticas por nós desconhecidas, mas que aparentemente buscavam comunicar-se com o sobrenatural – deuses e antepassados. Os geoglifos formam verdadeiros desenhos urbanos, com caminhos que os conectam, com entradas e saídas, sempre construídos em posição estratégica, de forma a perceber de longe quem se aproxima vindo das margens dos rios. A monumentalidade dos geoglifos deve ter causado temor, êxtase e respeito, sentimentos que experimentamos quando adentramos uma catedral, um palácio ou uma pirâmide. Reunidos nessas grandes praças geométricas, os antigos amazônidas sentiam-se conectados com o cosmos, talvez esperando que suas necessidades fossem atendidas.


templo ou fortificação?

Trincheiras são geralmente indícios de estruturas defensivas, assim como muros podem ser remanescentes de antigas paliçadas (espécie de cerca feita de madeira ou adobe, para cercar um assentamento, prevenindo do ataque de inimigos). As trincheiras que formavam os geoglifos parecem ter sido delimitações de um espaço que ao nível do solo separava o espaço mundano de uma espaço sagrado, cuja monumentalidade o tornava visível aos deuses. Os geoglifos podem ser entendidos como templos, parte de uma geografia sagrada que congregava peregrinos de lugares longínquos.

Uma civilização Amazônica?

A idéia de civilização está ligada a cidades, locais onde existem bairros e diversas áreas comerciais e residenciais. Os geoglifos tinham sim estradas que os conectavam, revelando uma malha quase urbana de lugares e caminhos. Ainda assim não poderíamos chamá-los cidades, mas centros de encontro, lugares sagrados onde se reunia uma população bastante grande para a época. Localizados a meio caminho entre os Andes e a várzea amazônica, os geoglifos sofriam a influência de ambos os ambientes e devem ter sido palco de cerimônias, festas, conflitos e encontros. Próximo a alguns geoglifos foram encontrados sepultamentos e um estranho tipo de vaso a que os arqueólogos chamaram “vasos-caretas”, por apresentarem uma face humana sobre o bojo. A representação de figuras humanas na cerâmica das sociedades amazônicas do período imediatamente anterior à chegada dos europeus, no século XVI, em geral mostra a preocupação em glorificar os antepassados e venerar seus chefes.



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