Arqueologia
Família protege sítio arqueológico no município de Barão de Cocais
Mineiros de Ouro de olho na pré-história: local guarda pinturas rupestres feitas há cerca de 6 mil anos e atrai estudantes e pesquisadores de todo o mundoPor Arnaldo Viana
Elizabete Almeida mostra os desenhos feitos nos paredões do sítio há millhares de anos por grupos de caçadores primitivos e folheia o livro de visitantes, que contém assinaturas de estudantes, turistas e cientistas de vários estados e do exteriorBarão de Cocais – Estudiosos das origens dos homem sabem de cor e salteado o caminho que leva à Serra da Conceição, em Cocais, distrito de Barão de Cocais, e, mais precisamente, ao Sítio Arqueológico Pedra Pintada. Um tesouro natural com registros da presença humana na Região Central de Minas datados de 6 mil a 10 mil anos. No rastro dos cientistas, dezenas de estudantes secundaristas e universitários visitam os paredões de pedra para ver, fotografar e tentar entender as mensagens rupestres deixadas pelos primitivos em desenhos sobre rochas.
Os registros arqueológicos resistiram ao tempo e às mutações geológicas e foram catalogados em 1848 pelo paleontólogo dinamarquês Peter Lund, cientista que percorreu grutas de Minas em busca de legados pré-históricos. Mas a chegada à região do homem moderno com seu caráter desbravador passou a representar risco às nítidas representações de animais e pessoas gravadas por remotos habitantes da América.
Felizmente, para o bem da ciência, uma família se interpôs entre a civilização e a história e preservou a integridade do Sítio Pedra Pintada. E de lá não arredou pé, passando a área de geração a geração, sempre disponível a estudos e à visitação. Quem conta essa história é a funcionária pública Elizabete Almeida, de 45 anos, em nome da família Diniz, que não tem nada de Diniz, sentada à mesa de madeira na área coberta em frente à sede do sítio arqueológico.
“Meus bisavós deixaram este terreno com 17 hectares de herança para os filhos. Meu avô materno, José Sérgio dos Reis, também já falecido, que desde a infância era conhecido como José Diniz, comprou as partes dos irmãos e aqui se estabeleceu com minha avó Maria Adelina dos Reis. A família mostrou desde então consciência de que tinha em mãos um importante patrimônio cultural. Em 1989, José Sérgio, ou José Diniz, recebeu uma comitiva de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que o alertaram também para o potencial turístico do Sítio Serra Pintada.
José Sérgio começou a investir em infraestrutura nos anos 1980. Hoje, quem tem a posse da área são José Roberto e Maria dos Reis, pais de Elisabete, e os tios dela José Romualdo e Piedade e Orlando e Nazareth. O sítio está aberto aos visitantes de segunda a domingo, das 9h às 16h, a uma taxa de R$ 5 por pessoa. O dinheiro é aplicado na manutenção. Elizabete, quando não está trabalhando na Prefeitura de Barão de Cocais, é quem guia os turistas e pesquisadores. “Durante a semana, 60% de nosso público é de estudantes.”
Não é permitido fazer fogo na área. Recomenda-se ainda não levar comida. “Os estudantes lancham na nossa sede. Há espaço para refeições. Podemos até servir almoço, desde que seja pedido com antecedência.” A área está bem cuidada. “Graças a Deus, fazemos um trabalho de preservação. Nossa luta é para mantê-lo aberto em bom estado”, diz Elizabete, que anda preocupada com a segurança. Tanto que vai encaminhar projeto à Secretaria de Estado da Cultura para instalação de uma guarita no portão de entrada com vigilância 24 horas.
O acesso é por estreita estrada de terra, a partir de Cocais, que a prefeitura mantém em boas condições. A Polícia Militar de Meio Ambiente está atenta a caçadores e desmatadores. Na divulgação, o Sítio Arqueológico Pedra Pintada conta com apoio do sistema Fiemg, que ajudou também em parte da construção da sede, para receber os visitantes, entre os quais turistas e pesquisadores da Europa, Japão e América do Norte e de todas as regiões do Brasil.
Diante de uma vista inesquecível, a 1,2 mil metros de altitude, Elisabete mostra, nos paredões, as figuras gravadas com pigmentos de terra: onças, lobo-guará, peixes, veados e outros animais. Há a figura de uma criança e a cena de um parto.
Pesquisadores acreditam que se tratava de um grupo nômade, de caça, de passagem pela região. Depois da visita, uma parada na lojinha do sítio, que oferece artesanato, compotas de frutas e mel. “Mas o nosso foco principal é o trabalho educacional”, reforça Elizabete, neta de José Diniz, que não era Diniz. Mas isso não tem a menor importância.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/11/02/interna_gerais,466418/familia-protege-sitio-arqueologico-no-municipio-de-barao-de-cocais.shtml (02/11/2013)
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