Arqueologia
Peça do mês de outubro
O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objetos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, mas também de aquisições, tendo sido incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e colecionadores.
Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às coleções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.
O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de bens culturais classificados como “tesouros nacionais”.
Existe, pois, sempre motivo de descoberta nas coleções do Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.
PEÇA DO MÊS COMENTADA
31 de outubro de 2015, às 15h:30
A apresentar por Victor S. Gonçalves e Ana Catarina Sousa
XAREZ 12 (REGUENGOS DE MONSARAZ, ÉVORA) E AS PRIMEIRAS ARQUITECTURAS DE TERRA DO CENTRO E SUL DE PORTUGAL: AS ESTRUTURAS DE COMBUSTÃO E OS SEUS CONTEXTOS
Durante largas décadas, o Neolítico antigo do interior alentejano era virtualmente desconhecido no registo arqueológico. A enorme visibilidade do Megalitismo na região (antas, menires e cromeleques) contrastava com os ténues indícios do povoamento mais antigo, nomeadamente das fases iniciais do Neolítico.
Reguengos de Monsaraz, território com um extenso historial de pesquisas, é paradigmático desta realidade. Até ao início dos trabalhos do Alqueva, apenas se conheciam as antas e menires da região, com um longo trabalho de pesquisa, desde os trabalhos pioneiros de Georg e Vera Leisner nos anos 40 até aos trabalhos da UNIARQ, a partir de meados dos anos 80 do século 20.
Muitas antas, pouca gente?
Os trabalhos de minimização do impacto da construção da barragem do Alqueva na Arqueologia permitiram identificar as fases anteriores ao eclodir do Megalitismo na região, nomeadamente na transição Mesolítico/ Neolítico. Na curva do Rio Guadiana, longe da principal concentração de antas, foram escavados entre 1998 e 2002 quatro habitats integráveis na transição Mesolítico/ Neolítico (6º milénio a.n.e.): Carraça, Fonte dos Sapateiros, Xarez 4 e Xarez 12.
Em dois de estes sítios (Xarez 12 e Carraça 1), foram identificadas estruturas de argila, revelando uma complexidade e sequência pouco conhecidas para este período.
Xarez 12 corresponde ao sítio com melhor preservação. A localização privilegiada sobre a margem direita do Guadiana atraiu grupos humanos numa longa cronologia, em regime de ocupação sazonal. A funcionalidade do sítio durante essa longa diacronia deverá ter-se mantido constante, relacionada com a caça (evidenciada na fauna e na abundância de projéteis – armaduras geométricas) e com a concentração de estruturas para combustão (no total: 33).
As estruturas associadas à fase mais antiga teriam uma funcionalidade de forno culinário, registando-se a presença de ossos de suídeos e conchas de amêijoa de rio no interior (carne de porco à alentejana no Neolítico?).
Face à importância científica e patrimonial dos fornos de Xarez 12, quando as águas da Barragem já quase atingiam a cota de 136 m (altitude média do sitio) foram removidas 7 das 33 estruturas de argila. Foram depositadas no Museu Nacional de Arqueologia e 13 anos depois são exibidas pela primeira vez.
A «peça» do mês é entendida num sentido mais lato, porque os Museus de Arqueologia são sempre museus de sítios, e porque temos uma parte do sítio no Museu.
Museu Nacional de Arqueologia. Entrada Livre
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