Arqueologia
Tesouro inca volta ao peru após quase um século
Repatriamento de relíquias arqueológicas de Machu Picchu levadas entre 1911 e 1915 para a Universidade Yale, nos EUA, é comemorado com exposição que comove os peruanos.O tesouro arqueológico extraído há quase um século de Machu Picchu está de volta ao Peru. Pela primeira vez, os peruanos podem ver de perto o legado retirado pelo pesquisador americano Hiram Bingham de 1911 a 1915, período em que ele anunciou ao mundo a descoberta da cidadela de granito nos Andes e uma equipe passou a escavá-la. Sob os auspícios da Universidade Yale e da National Geographic Society, a expedição levou para os Estados Unidos algo em torno de 45 mil fragmentos, entre peças de cerâmica, metais e ossadas.
O primeiro lote das relíquias de Machu Picchu contém 363 peças e está em exposição no Palácio de Governo, na Praça de Armas, centro de Lima. Seu destino final será a Casa Concha, em Cuzco, para onde o acervo deve ser transportado nas próximas semanas. Conforme acertado com Yale, depois de anos de disputa, a antiga capital inca será o lar definitivo de um patrimônio cujo valor, tanto histórico como sentimental, não tem preço para os peruanos. "A importância das peças não é monetária, mas se trata de uma riqueza cultural inestimável. Os materiais arqueológicos nos contam o desenvolvimento de nossa civilização. É recuperação da história", diz o arqueólogo Jamer Nelson Chávez Antigona, responsável pela organização das peças.
A chegada do tesouro de Machu Picchu causou grande alvoroço no país. Muita gente ficou empolgada com a notícia, mas houve também quem não perdeu a chance de descarregar críticas. Para o diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu, Fernando Astete, o material não deveria ser hospedado em Cuzco, a cerca de 120 quilômetros do sítio arqueológico mais importante da América do Sul. "Sentido faria se as peças ficassem em Machu Picchu, não em qualquer outro canto." Polêmicas à parte, a exposição em Lima tem recebido cerca de 1,2 mil visitantes por dia. "Há muito interesse por parte dos peruanos. Há gente de todas as idades, é um motivo de orgulho nacional", comentou o estudante Fernando Ramírez, de 28 anos.
Datadas de 1450 a 1532, período de máxima expansão do império inca, as peças mais notáveis são vasos cerimoniais (conhecidos como quencos), recipientes usados em celebrações ritualísticas e de poder (os keros), artefatos confeccionados em cobre e prata e até um esqueleto. Há ainda cestos e vasilhas ancestrais, algumas com pedestal, outras com uma ou duas alças, muitas delas pintadas. Grande parte do material está identificado. "Estamos muito contentes por recuperar tudo isso", festejava a dona de casa Sofia Ata, de 56 anos. Natural de Cuzco, estava de visita a familiares na capital e aproveitou a ocasião para também conhecer a casa do presidente da República, que em breve terá novo inquilino. "Não podia perder a oportunidade de adentrar e admirar o palácio."
Mas, num país acostumado a controvérsias e posições antagônicas, muita gente contesta o teor do gesto de Yale. "A exposição é bonita, claro, ainda que muito pobre pela riqueza que o Peru teve. Havia muito ouro, muita prata... E só nos restam resquícios de toda a riqueza original do país", observa o advogado Orlando Leaño, de 41 anos. "Tenho a impressão de que isso que nos devolveram não representa nem 1% de tudo o que se perdeu ou nos levaram."
Com fala mansa e ponderada, mas ácida, Leaño faz pensar: "Não creio que orgulho seja a palavra correta para descrever o sentimento que deveríamos ter. Seria justo que um país que se diz irmão devolvesse ao outro tudo o que lhe tomou. Faz, aliás, muito tempo que nosso legado deveria ter sido devolvido", afirma. "De toda maneira, qualquer um pode notar que não devolveram o que havia de mais valioso. Fizeram isso apenas como quem passa a mão na cabeça de quem considera inferior."
De acordo com o arqueólogo Chávez, em dezembro deve chegar o segundo lote dos tesouros incas. Até 2012, tudo o que foi retirado estará de volta ao país sul-americano. "Juntas, todas peças configuram algo como 5 mil objetos", relata o especialista.
A devolução do que fora extraído do sítio arqueológico e de suas quase 200 tumbas incas pela equipe liderada por Bingham, no início do século passado, é o desfecho de décadas de reivindicação. Na época, a retirada e o envio da herança inca a Yale ocorreu com o consentimento do governo peruano, que alegava ter cedido o material para estudo por apenas 18 meses. Embora demorado, o acordo parece ter sido benéfico para todos.
Na condição de depositária das relíquias incas, Yale estabeleceu exigências para a devolução dessa herança, entre elas a construção de um museu e centro de pesquisa em Cuzco. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Universidad San Antonio Abad, a principal da eterna capital inca. Estudiosos americanos e peruanos darão continuidade aos trabalhos de pesquisa em conjunto.
Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110417/not_imp707376,0.php (17/04/2011)
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